"Incertezas de Outubro" é um projeto em andamento, de autoria de Daniel Yehudi Dias Lima. O texto, faz uma alusão, a um jovem que iria por sua vez, apenas relatar acontecimentos do seu cotidiano enquanto individuo, de suas paixões, e frustrações, quando percebe em meio a uma narrativa que os seus problemas são insignificantes, diante da complexidade e dos problemas que o mundo enfrenta, o autor traz alusões de experiências vividas em Outubro e as compara com aspectos filosóficos, presentes no mundo atual.
* 26 de Outubro de 2021.
É estamos quase no fim de outubro, para mim o mês mais melancólico
de todos, desde cedo nunca soube explicar os motivos, é como uma força do
universo que todos os anos renova os meus pensamentos, em uma magnitude, que
nenhum outro mês do ano é capaz, talvez seja a lua em escorpião, quem sabe? O
ser humano (sempre procura explicações místicas para aquilo que desconhece), a
grande questão é que outubro sempre surge como divisor de aguas em minha vida,
até os vinte três anos de idade, parecia apenas coincidência do destino, e
mesmo sendo cético, não sou descrente ao ponto de acreditar que as coisas
surgem do nada, sem um proposito...
Sempre me fascinou o fato, de que o universo, a natureza,
funcionam em perfeita sinergia, uma cadeia de acontecimentos sequenciados que
geram “equilíbrio”, um meio embebido de harmonia, entre o sol, o solo, a agua,
o clima o tempo... por último os seres, plantas que geram o nosso oxigênio,
animais que se alimentam dessas plantas, outros animais que seguindo a sina da
luta pela sobrevivência, devoram uns aos outros... como um impulso cego na
busca do alimento, a energia necessária para o nosso corpo...
Sansão
e o Leão (1965) de Luca Giordono.
O mesmo corpo
Um outro universo...
Humanos... viêmos da natureza e retornamos a ela depois de morrermos, dentro de nós outro “sistema”, perfeito! Composto por matéria, tecido, células, órgãos... um coração bombeando o sangue, para que tudo funcione no mesmo ritmo, ao mesmo tempo... A ausência de um único cromossomo, é capaz de modificar totalmente o funcionamento do corpo humano, assim como na Natureza, “Cada Lugar na Sua Coisa[1]”
O homem de
hoje age tal como um filho ingrato, que cospe no chão do próprio lar...
Isso me faz lembrar que ontem, durante uma caminhada pelo meu
prédio, avistei um menininho, estava mostrando aos outros um “carrinho” que
ganhara do pai, o carro era maior que ele, cheio de luzes, andava a base da
energia elétrica, veloz, com tintura bacana (eu mesmo se tivesse um desses,
nunca mais andaria de ônibus), no olhar das outras crianças, o desejo, todos
corriam atrás do menininho em cima do seu possante na esperança de poder dar uma voltinha no batmovel[1]...
Naquele momento, ainda que muito criança, o dono do carrinho, aprendeu que o
fato de “ter algo” o dava visibilidade,
o tornava diferente dos demais, despertava nos outros uma certa inveja, não a
inveja do carro em si, mas da sensação de felicidade que ele proporcionava, e
que o seu dono, fazia questão de mostrar e gritar aos quatro cantos da rua,
aquele bem material, fez com que aquele fosse o seu momento! E nele mesmo, uma
alegria passageira, de um sentimento insaciável, que talvez o persiga ao longo
de sua fase adulta, quem sabe.... As outras crianças, por sua vez, serão
dominadas pelo desejo de possui-lo também, ao chegar em casa correndo a
primeira coisa que farão, é pedir que o pai lhe compre o mesmo carro, pois
dentro de cada ser humano, existe um sentimento de pertencimento, e o “ticket
de entrada” é poder possuir o que os outros também possui, quem ai não conhece
aquela pessoa que utiliza um iphone pelo simples fato de que uma pequena
parcela da população o pode ter? o iphone não é um item lucrativo apenas pelo
fato de ser um aparelho bom, existem vários aparelhos bons, ele é lucrativo
pelo que a sociedade estereotipou em cima dessa marca. A história desse
menininho, é apenas o início de um espelho da sociedade que nos tornamos hoje!
Continua...
Danniel Yehudi Dias Lima.
[1]“Cada Lugar na sua Coisa” musica lançada em 1976 pelo poeta, cantor e compositor brasileiro Sergio Sampaio.
[2] O Ecúmeno, do grego oikoumêne, que significa "habitada (a Terra)", ou seja, a área habitável ou já habitada da Terra - e o Anecúmeno, que é composto por áreas desprovidas de povoamento ou que, devido às suas condições naturais, abrigam pouquíssimos indivíduos
[4] Batmovel é o automóvel utilizado pelo herói Batman, lançado pela primeira vez em 1939 na revista “Detective Comics” pela “DC Comics”
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